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Sobre a obra publicada
Neste livro, discutimos as dimensões do trabalho e os muitos atores envolvidos no cotidiano dos Xukuru-Kariri a partir de 1952, quando o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) adquiriu uma faixa de terras em Palmeira dos Índios/AL, criou a Aldeia Fazenda Canto e instalou o Posto Indígena Irineu dos Santos para controlar a mão de obra dos aldeados e conter os deslocamentos para atividades sazonais. Contudo, apesar do reconhecimento oficial, os problemas sociais, as estiagens prolongadas, a falta de empregos e a concentração fundiária de fazendeiros invasores criaram uma arena favorável à procura de trabalho fora do território indígena, acentuada até a década de 1990 com a ampliação do parque industrial no Sudeste do Brasil. Quando a agricultura no Posto Irineu dos Santos não supria as necessidades básicas de sobrevivência, indígenas Xukuru-Kariri exerciam atividades como vaqueiros em fazendas nos derredores da cidade, migravam para trabalhos no Semiárido e na Zona da Mata de Alagoas e para diversas atividades urbanas e fabris no Sudeste do país. As explorações nos mundos do trabalho, com insalubres condições socioeconômicas, o fim das atividades sazonais e a esperança de melhores condições de vida, com as práticas agrícolas, favoreciam retornos aos locais de origem. As distintas situações históricas vivenciadas fortaleceram o sentimento de pertença aos territórios em Palmeira dos Índios e acirraram os conflitos com fazendeiros locais. Fundamentamos nossas discussões a partir das reflexões de autores como Edson Silva, João Pacheco de Oliveira, Marilda Aparecida de Menezes, E. P. Thompson, Carlo Ginzburg, Maurice Halbwachs e em análise documental nos acervos do Grupo de Pesquisas em História Indígena de Alagoas (GPHIAL), em Palmeira dos Índios; do Museu do Índio, no Rio de Janeiro; da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no Recife; e em memórias orais, documentos pessoais, anotações e fotografias cedidas por indígenas. Buscamos discutir as variadas experiências dos Xukuru-Kariri nos mundos do trabalho, processos fundamentais para a consolidação de retomadas territoriais e exigência de direitos reconhecidos constitucionalmente.
Adauto Santos da Rocha